PUBLICAÇÕES

Marcas, passagens e condensações

Marcas, passagens e condensações – investigações de um processo em gravura contemporânea é um livro que propõe reflexões críticas a partir de uma pesquisa em arte, que articula questões conceituais provenientes de uma prática artística na área da gravura, propondo a desconstrução dos meios tradicionais de gravação e impressão. A autora apresenta uma análise textual sobre a sua produção poética, investigando as possibilidades de potencializar o vazio e o cheioatravés da gravação de matrizes com instrumentos de corte e da gravação com fogo e a impressão de matrizes sobre suportes de papéis e de parafina. O texto conduz a aproximações e análises de obras de artistas contemporâneos e articula referenciais interdisciplinares, contribuindo para estudos de outros artistas e estudiosos no campo das Artes Visuais e áreas afins.

Mônica Zielinsky

 

Não sem lastimar, reconhecemos a grande lacuna existente em publicações na área da gravura, em especial no Brasil. Este livro contribui, de sua parte, para minimizar esta ausência, ao trazer uma valiosa reflexão sobre este gênero artístico, em especial a partir de uma experiência vivida de forma intensa pela autora, que, antes de tudo, é uma artista da área da gravura.

Todos os dados de problematização e análise contidos na publicação são frutos do contato direto com a matéria da gravura e tramados em meio à experiência acadêmica.

 

Este livro de Lurdi Blauth é o resultado de uma tese de doutorado, desenvolvida e defendida no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS, na área de Poéticas Visuais. Com isso, ela soube aliar os estudos sistematizados teóricos e práticos necessários em um curso de acadêmico na área da arte. Neste nível mais adensado, integrou a vivacidade da experiência do fazer arte, contando com as facetas inerentes do acaso, do programado, do ensaio e erro, das surpresas irradiadas do próprio processo do fazer, mais ainda, dos resultados muitas vezes inesperados que se mostraram no decorrer do desenvolvimento do ato criativo. Suas incursões, por exemplo, nos estudos dos cheios e vazios a partir de consultas a pensamentos de autores chineses ou dos que pensaram as obras daquela cultura, como François Cheng ou George Rowley, tiveram repercussão em sua prática da gravura, assumindo no entanto, neste estudo, uma versão muito atual. O mesmo se deu em relação às ideias de Gaston Bachelard, nas suas poéticas reflexões sobre A dialética da duração, assim como em Fragmentos de uma poética do fogo. Essas consultas completam-se em suas articulações com o pensamento de Deleuze, ao estudar este as relações entre a diferença e a repetição no ato de gravar, fatos de grande repercussão na construção poética da gravadora. Os grafismos e as marcas ocasionadas pela queima repetem-se. Porém, a cada nova ação geram-se transformações e delas eclodem diferenças. Lembra Deleuze que pode-se sempre “representar” a repetição como uma semelhança extrema, mas ao se passar gradativamente de uma coisa a outra é possível mostrar-se diferença de natureza entre duas coisas¹. Nesse sentido, a obra de gravura de Lurdi enriquece a apreensão do observador, uma vez que cada gesto, mesmo repetitivo no ato de gravar, traz à luz novas intervenções, tornando cada imagem uma imagem única.

Este fato, decorrente da experiência do próprio processo de trabalho, levanta ricas interrogações sobre a natureza e a matéria da gravura – faz transitar-se do fogo à queima, do sílex à parafina. Com este sentido de investigação permanente, ela coloca em xeque os materiais tradicionais desta área de produção e estende a gravura a outros espaços de sua concretização. Por esses caminhos, a autora propicia elementos para se repensar a índole da gravura e sua aspiração contemporânea.

O livro contempla assim as profundas relações entre um pensamento artístico relativo a esta especificidade artística, gerada no âmago do fazer, mas ampliada em conceitos operacionais que se dispõem a serem aprofundados em sua extensão pública, não apenas na da gravura em si, mas na de todos os que pensam a arte contemporânea; em especial, a partir dos materiais e dos procedimentos identificados na própria origem geográfica e cultural de sua germinação.

¹ Cf. Gilles Deleuze. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

Mônica Zielinsky
Julho de 2011

Rosa Maria Blanca

 

Marcas, passagens e condensações constitui, sem dúvida, uma pesquisa que abre os caminhos da pesquisa em gravura na arte contemporânea. A expansão da linguagem da arte gráfica nas suas interfaces com o desenho e a pintura é uma das contribuições que Lurdi Blauth propõe ao longo desta obra. Trata-se de uma publicação oriunda dos seus estudos de Doutorado em Poéticas Visuais, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A desnaturalização da matriz e seu esvaziamento transforma o processo convencional da prática da gravura. A geração de suportes questiona efetivamente a crença em categorias fixas no campo da gravura. A condensação extraída e iniciada com fogo através dos seus múltiplos processos nos conduz paradoxalmente a uma tridimensionalidade (im)própria da gravura.
A artista mostra que é durante a reflexão e escrita, no atelier, durante o processo criativo, onde se produz conhecimento para o avanço da(s) prática(s) artística(s). A poética não se localiza na metafísica da materialidade, mas na articulação conceitual que atravessa o imaginário da artista.
Mediante uma escrita incisiva a artista nos transporta rumo às fronteiras invisíveis das linguagens visuais, mostrando que não existem limites na arte. A prática da gravura não será a mesma.

Rosa Maria Blanca
Artista, Doutora em Ciências Humanas,
Teórica Queer e Professora da Universidade Feevale

A mostra Visor 6 na Pinacoteca da Feevale apresenta uma série de trabalhos em vídeos realizados por artistas visuais, com o intuito de ampliar reflexões sobre os suportes tecnológicos de criação artística, dando visibilidade a manifestações estéticas que exploram a linguagem da videoarte.

Novas tecnologias estão presentes em nosso cotidiano e constantemente redimensionam o nosso campo perceptivo e, para os artistas, essas ocorrências tornam-se material de trabalho, instigando abordagens e cruzamentos entre movimento, tempo e som, que são explorados por meio do vídeo.

A curadoria propõe o encadeamento dos vídeos em estruturas narrativas paralelas cuja projeção em duas sequências simultâneas amplificam as instaurações dos trabalhos no espaço expositivo. As temáticas enfocadas pelos artistas indagam situações e experiências relacionadas ao corpo, memória e diferentes passagens do tempo no contexto atual.

Visor 6 reestabelece uma parceria profícua entre as pesquisas em arte e sobre arte dos cursos de Artes Visuais da Universidade Feevale e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

 

Curadoria

Lurdi Blauth (FEEVALE)

Elaine Tedesco (UFRGS

 

Participantes:

Andressa Cantergiani, Anna Rosa e Diênifer Schmitt, Bruno Borne,  Calvin Maister, Daniela Távora, Esther Ledur Frattali, João Paulo Vicentini Franz, Maria Luciana Firpo, Marion Velasco, Naomi Kamoshita, Marília Graeff e Vera Amaral, Natalia Schul, Neca Sparta, Rosana Almendares, Sabrina Esmeris, Samy Sfoggia, Sandra Becker, Viviane Gueller, Walesca Timmen.

PDF com as curadorias

TRAVESSIAS
O mesmo e o outro

Esta exposição é resultante da pesquisa Imagem e texto: inscrições e grafias em produções poéticas1, que trata de questões que articulam as possíveis inter-relações entre imagens e palavras na arte contemporânea, o que significa que nem sempre a palavra está inserida na imagem ou vice-versa, a palavra sendo tratada como imagem.
O título Travessias: o mesmo e o outro tem como referência estudos do filósofo Jacques Rancière, que reflete sobre a função e o lugar das imagens na arte e as transformações que elas suscitam na atualidade e questiona-se se, daqui para a frente, ainda haverá realidade ou, apenas, imagens. Ou, ao contrário, se não há mais imagens, somente uma realidade representando a si mesma? Se só há imagens, então não existe mais o outro da imagem. Se não existe o outro da imagem, a noção mesma da imagem perde o seu conteúdo, não há mais imagens.

Essas indagações perpassam os trabalhos apresentados nesta exposição, oriundos das singularidades criativas de diversos artistas, tendo como propósito invocar outras analogias e possíveis narrativas que podem ser ressignificadas pelo olhar do observador e, talvez, remeter ao reconhecimento da presença ou da ausência do mesmo e do outro.
Nessa perspectiva, a prática da arte envolve maneiras híbridas de fazer e de dizer, compartilhando experiências do visível e do invisível, ao mesmo tempo em que embaralha palavras e imagens com a função provocar de novas indagações que vão além da racionalidade do pensamento.
Ao Espaço Cultural Feevale, agradecemos pela viabilidade de realizar esta exposição, bem como ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo importante amparo à pesquisa e apoio financeiro, possibilitando a publicação deste catálogo e a socialização de alguns dos resultados investigados no decorrer da pesquisa.
Dra. Lurdi Blauth – Curadora
Artista visual, pesquisadora e professora, Universidade Feevale
1 – Projeto vinculado ao grupo de pesquisa Linguagens e Manifestações Culturais, na linha de pesquisa Linguagens estéticas: processos e produção, PPG – Processos e Manifestações Culturais, Universidade Feevale, NH, RS.

FORAPALAVRADENTRO:
(entre) cruzamentos poéticos entre imagens e palavras[1]

Ao propor uma curadoria de obras que articulam a imagem e a palavra em produções de artistas do Rio Grande do Sul, nos deparamos com o envolvimento de critérios e escolhas, e em especial, a exposição Forapalavradentro, é oriunda de resultados vinculados a pesquisa Imagem e Texto: inscrições e grafias em produções poéticas, iniciada em 2010. Essa pesquisa investiga a inter-relação entre imagem e palavra, com o intuito de verificar de que modo ambos os códigos se articulam na produção de novas significações, a partir de interfaces híbridas que incorporam elementos de outras áreas do conhecimento e as possibilidades operadas entre linguagens poéticas contemporâneas.

A partir dessas considerações, podemos perceber que a utilização da palavra como elemento visual nos processos de criação de imagens configura outras relações entre tempo e espaço, entre formas e códigos, criando tensões entre as duas linguagens. As obras participantes dessa exposição propiciam a ampliação de novos diálogos instaurados pelas relações que foram articuladas na sua interface com o imaginário do espectador. Nesse processo de imbricamento entre matérias e materialidades, percebemos que as proposições estéticas entre a imagem e a palavra hibridizam as práticas da arte visual e da palavra, nas quais se interpenetram as possibilidades de meios e materiais, processos de criação e procedimentos técnicos.

A relação entre a imagem e a palavra, na contemporaneidade, está presente em proposições de inúmeros artistas que incorporam elementos de diferentes naturezas em suas criações estéticas. As práticas da arte visual e da escrita configuradas pelas interações de formas e códigos provocam tensões e distensões em experiências que estabelecem novas correspondências de tempo e espaço, esgarçando as delimitações entre as fronteiras das distintas linguagens da arte. Portanto, o conjunto de obras apresentadas pelos artistas participantes dessa exposição articulam de forma diferenciada as distintas possibilidades de explorar os dispositivos que envolvem a interação de códigos linguísticos com a imagem.

 

[1] Artigo readaptado do original publicado no catálogo Forapalavradentro (2013) pela autora.